Mais uma de Neruda
Amiga, não morras.
Ouve estas palavras que me saem ardendo,
e que ninguém diria se eu não te dissera.
Amiga, não morras.
Eu sou o que te espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente te espera.
Olho os frutos cair na terra sombria.
Vejo as gotas de orvalho dançando na erva.
Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.
Sob o céu do Sul, o que te espera quando
o ar da tarde como uma boca beija.
Amiga, não morras.
Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para o leito selvagem fragrante a sol e a selva.
O que trouxe nos braços jacintos amarelos.
E rosas desgarradas. E papoulas sangrentas.
O que cruzou os braços para te esperar agora.
O que rompeu seus arcos. O que vergou suas flechas.
Eu sou o que guarda nos lábios o sabor de uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.
O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.
O ar da tarde vibra nos ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.
O rio desatado rompe às vezes a chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trêmula.
Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
Amiga, não morras!
Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.
O que cortou jacintos para teu leito, e rosas.
Estendido entre ervas, eu sou o que te espera!
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial