Narciso's Lake

sábado, fevereiro 18, 2006

Mais uma de Neruda

Amiga, não morras.
Ouve estas palavras que me saem ardendo,
e que ninguém diria se eu não te dissera.

Amiga, não morras.

Eu sou o que te espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente te espera.

Olho os frutos cair na terra sombria.
Vejo as gotas de orvalho dançando na erva.

Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.

Sob o céu do Sul, o que te espera quando
o ar da tarde como uma boca beija.

Amiga, não morras.

Eu sou o que cortou as grinaldas rebeldes
para o leito selvagem fragrante a sol e a selva.
O que trouxe nos braços jacintos amarelos.
E rosas desgarradas. E papoulas sangrentas.

O que cruzou os braços para te esperar agora.
O que rompeu seus arcos. O que vergou suas flechas.

Eu sou o que guarda nos lábios o sabor de uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.

O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.

O ar da tarde vibra nos ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.

O rio desatado rompe às vezes a chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trêmula.

Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
Amiga, não morras!

Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.

O que cortou jacintos para teu leito, e rosas.
Estendido entre ervas, eu sou o que te espera!






quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Solidão

Como definir o que é solidão??? solidão é muito mais que "estar só", solidão é "se sentir só", solidão é chorar num terminal de onibus às 15 pra meia noite de uma quarta pra quinta feira e não ter ninguém que possa te alcançar, ninguém para perguntar o que há, e aúnica cumplicidade possível é a da cachorra de rua que deita ao seu lado e suspira, um suspiro fundo que parece carregar tanta tristeza quanto você.

Solidão é entrar em casa no escuro, passar esbarrando nas cadeiras sem ter que se preocupar em acordar ninguém, é entrar na cozinha e encontrar a louça mofando na pia, é entender anos mais tarde a profundidade de uma crônica lida na adolescência (bons tempos os de adolescente, não é de admirar que tantos não queiram deixá-la pra trás).

Solidão é esperar o telefone tocar, horas, dias, e ele se recusar. De repente: Trimmm... Alô, aqui é da São Judas... fucking shit!!!! não!!! não é esse telefonema que eu espero...

Solidão é ter os braços abertos e o coração pulsante e não haver ninguém, ninguém pra abraçar, ninguém pra amar...

Ficaria horas dizendo o que pode ser a solidão, ainda assim não conseguiria, apenas esbarraria na solidão imensa em que me encontro, e na dor insuportável que ela trás consigo...